quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Ontologia, epistemologia...

Nos modulos basicos de pesquisa em Ciencias Socias aqui na Universidade, o que se fala e o que se prega e que voce precisa ter bem claro os parametros em que sua pesquisa esta alocada e qual a perspectiva filosofica em que ela esta inserida.
Essas sao questoes bem serias que podem dar substancia a sua pesquisa ou leva-las ao descredito.
O primeiro passo para dar coesao a sua pesquisa e identificar qual e a ontologia e a epistemologia ao qual seu trabalho pertence.
Ouvi de professores aqui que sera a sua pergunta de pesquisa que definira os metodos que voce utilizara na sua investigacao e dai voce identifica qual e a postura filosofica que voce vai adotar.
Eu nao concordo.
Particularmente eu acredito que as pessoas assumem determinadas posturas filosoficas e politicas que dai irao refletir na forma como se encara e se compreende o mundo em que se esta inserido. Isso determina a sua postura tambem como pesquisador. As suas perguntas de pesquisa irao refletir esse seu posicionamento, expondo qual e sua ontologia e epistemologia.

Enfim, voce pode descobrir de uma forma ou de outra. Mas se voce nao sabe:

Ontologia e o estudo da realidade, de sua constituicao, de sua natureza. A ideia e estabelecer o que e real, o que existe. A principio existem duas concepcoes ontologias: realismo, em que o mundo e considerado como realmente real; e idealismo, em que o que nos pensamos que e real existe apenas em nossos pensamentos.

Epistemologia e o conhecimento que se pode adquirir a partir dessa concepcao ontologica. Os posicionamentos epistemologicos sao:


Realismo

Idealismo

Objetivismo: conhecemos o mundo de forma objetiva.

Subjetivismo: conhecemos o mundo de acordo com a nossa opiniao e isso varia de pessoa para pessoa.

Empiricismo: conhecemos o mundo por estuda-lo a partir de experimentos ou observacao.

Racionalismo: descobrimos por refletirmos sobre ele

Positivismo: conhecemos o mundo por estuda-lo da mesma forma que cientistas da area de exatas e biologicas o estudam.

Interpretivismo/Relativismo: o mundo deve ser interpretado e essa interpretacao varia de individuo para individuo, de contexto para contexto.

Esses posicionamentos e nomenclaturas mudam de autor para autor. Essa e apenas uma ideia para se pensar qual posicionamento se tem ou se deve adotar perante a pesquisa.
Mas isso e so o comeco da discussao.



quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Fora de ordem

Às vezes as pessoas se apegam a questão de organização e ordem que as "coisas devem acontecer".
Para uma pesquisa científica, há uma ordem "certa" de coisas a acontecerem: revisão bibliográfica; desenvolvimento (ou pelo menos o rascunho) da metodologia; coleta de dados; processamento dos dados coletados; análise e conclusão, com a escrita do trabalho.
Pois bem, essas coisas supostamente acontecem dessa forma porque:
1. você precisa conhecer o campo em que está desenvolvendo a pesquisa, os pesquisadores, o que está sendo dito e porquê para poder afirmar onde o seu trabalho se encaixa;
2. depois de saber o que tem sido pesquisado, você pode elaborar suas perguntas de pesquisa sobre a sua temática, identificar o problema e talvez elaborar uma hipótese;
3. com a estrutura do trabalho montado, você identifica qual será a metodologia de pesquisa, ou metodologias se for misturar ou triangular dados;
4. a partir da metodologia, você identifica quais serão as estratégias e instrumentos mais apropriados para coletar os dados que irão te ajudar a responder as suas perguntas;
5. depois de ter coletado os dados, você irá processá-los para ver o que eles estão dizendo, se há categorias que você pode identificar neles ou qualquer outra coisa;
6. quase no final você analisa o que encontrou a partir da metodologia e da teoria em que você está apoiando;
7. e tudo isso você relata de forma escrita.

No entanto, muitas coisas podem acontecer durante o processo trazendo o inesperado:
disciplinas que você precisa fazer ao mesmo tempo;
livros e artigos que você lê e acha que vai ajudar e na verdade só atrapalham;
participação em congressos e simpósios que te auxiliam a falar sobre a sua pesquisa e networking;
além da questão família, amigos, doença, férias, dinheiro, etc, etc, etc.

E você precisa dar conta de tudo. ou quase tudo. Mas principalmente no que compete à pesquisa.
Porém, acho que o maior inimigo que nós temos somos nós mesmos, principalmente se quisermos ser perfeitos naquilo que estamos fazendo.
O perfeccionismo pode levar as pessoas a não conseguir terminar o trabalho por sempre buscar trabalho perfeito e não o trabalho possível.
Ouvi durante as lectures que o PhD é só o começo. Ele não é definitivamente o seu trabalho, mas um rascunho do que o seu trabalho se tornará no futuro como um acadêmico.
Essa é uma boa ideia para se apegar e não cobrar de si mesmo algo que está além das nossas possibilidades e, na verdade, nem é esperado de nós.


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Cartas de autorização

Dependendo da Universidade que você está sua pesquisa precisará passar pelo Comintê de Ética e ser aprovada. Independentemente do processo, o que é extremamente importante para caracterizar a aprovação da sua pesquisa é mostrar que ela está em acordo com os preceitos éticos da instituição em que você está desenvolvendo o estudo, além de tratar com respeito aqueles que participarão de seu estudo. Esse respeito e confiança você adquire com os termos de consentimento e as cartas de apresentação.

Se você vai desenvolver uma pesquisa teórica, a sua ética está em seguir os princípios de copyright. Se você vai desenvolver uma pesquisa prática, a sua ética está em como você irá lidar com os fatores humanos. O consentimento das pessoas em participarem da pesquisa é um dos passos mais importantes que você dá, pois será através deles que você irá se resguardar judicialmente.

Para cada tipo de estudo e técnica de coleta de dados pode ser desenvolvida uma carta. Porém, o mais interessante é desenvolver cartas que estejam voltadas para a população que comporá o seu estudo. Como eu lido com alunos, que podem ser crianças, jovens e adultos, foi necessário elaborar uma carta para cada faixa-etária, em que cada uma tinha uma linguagem apropriada, explicando o que era o estudo, seu objetivo e o que seria feito.

O site da Boise State University nos EUA traz vários modelos úteis de elaboração de cartas. Usei várias delas na minha pesquisa. (acessado em 22/09/2014)

Aqui vai um check-list do que o seu termo de consentimento deve conter:

A carta deve:
- ser simples o suficiente para crianças portadoras de necessidades especiais entenderem;
- dizer que eles estão sendo convidados a participar de um estudo;
- ter o objetivo do estudo; 
- estimar o tempo que envolverá os participantes;
- mostrar o que acontecerá se eles concordarem em participar;
- apresentar os riscos e incômodos sobre a participação;
- comentar os benefícios que eles terão;
- indicar que eles devem perguntar aos seus pais quaisquer dúvidas que tiverem;
- afirmar que a participação é voluntária e eles podem parar a qualquer momento;
- indicar os pais/responsáveis sabem sobre a participação deles na pesquisa.




terça-feira, 16 de setembro de 2014

Supervisors

Se alguem te disser que nossos orientadores/supervisors "sempre tem razao", acredite.
Eu tenho costume de gravar todas as reunioes que eu faco com a minha supervisor. As vezes ela fala rapido, as vezes eu me perco em outros pensamentos, as vezes eu nao entendo a relacao do que ela fala com o meu trabalho.

A cada reuniao eu ouco novamente, fazendo uma transcricao, nao necessariamente literal, mas do que "eu preciso saber" e "nao posso esquecer" para a proxima reuniao. Sempre alguma coisa escapa, mas boa parte a gente acaba cobrindo.

E sabe tambem aquela impressao que voce tem que eles vao falando as coisas pra gente e na hora a gente nao entende porque nao tem maturidade suficiente... entao, pode ter certeza que eles ja falaram umas quatro reunioes para traz e vc que nao percebeu/ouviu.

Sempre tem coisas que, ao ouvir de novo a minha supervisor, eu tenho certeza que ela nao disse, mas esta la gravado. "Onde eu estava com a cabeca que nao percebi isso?" Eu sempre me pergunto. Eles nos falam coisas, discordam de outras e nos mostram que caminho seguir.

Muitas vezes as sugestoes que eles nos dao, na verdade sao correcoes a serem feitas e eles estao sendo educados em nao falar que "aquilo ficou uma porcaria". Expressoes como "gostei, mas acho que talvez isso nao caiba no seu capitulo de teoria"... quer dizer que voce perdeu tempo e pode jogar tudo fora. Agradeca se teu orientador falar coisas assim.

E tenha certeza, eles tem razao. Eles sao mais experientes, conhecem o campo (pelo menos mais que vc) o suficiente para ter uma opiniao formada. De que vale a pela comprar briga com eles? Para que? So vc vai sair perdendo. Confie neles, porque eles sabem o que fazem.

Por outro lado, e claro que existe o orientador "zica", aquele que nao faz nada, nao indica nada, nao corrige, nao le, nao aparece e nao te ajuda. Mas tome cuidado, porque as vezes o que vc espera que ele faca e o seu trabalho e isso ele nao vai fazer mesmo e pode ter certeza tambem a zica nao e ele...

Cada um tem o seu estilo e ele pode nao bater com o seu. Isso nao deve interferir no trabalho, pois a producao intelectual que vai sair dai sera relacionada com o que voce esta desenvolvendo. Confie e veja a forma de trabalho dele(a). Tente arranjar um meio-termo entre a sua forma de trabalho e a dele. Faca sugestoes de como vcs podem funcionar melhor. Desenvolva estrategias para que nenhum de voces saiam perdendo e ambos encontrem uma forma comum de trabalho.

E nao esqueca: isso e um relacionamento, que pode ser guiado pelo amor ou pela dor.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Disciplinas

Tanto para o mestrado quanto para o doutorado e necessario participar de algumas disciplinas. Algumas sao obrigatorias, outras voce faz se quiser. As obrigatorias, se voce fizer a monografia, paper ou assignment que esta previsto como forma de avaliacao, voce recebera uma determinada quantidade de creditos. Se falhar, seu prontuario ficara "manchado" com aquela nota feia.

E comum fazer uma quantidade maior do que as disciplinas minimas. Nunca a gente tem seguranca suficiente para dizer que nos ja sabemos o suficiente e nao precisamos ler mais. Na verdade e o contrario. Nunca a gente esta satisfeito. (E se achar que sabe, tem alguma coisa muito errada ai!).

O carater das disciplinas oferecidas nos programas de pos variam. Aqui em Birmingham, o meu departamento exige que tres modulo sejam feitos somando um total de 60 creditos (20 cada disciplina). Ha disciplinas optativas mais curtas cujo valor dos creditos e de 10 pontos cada.

Uma estrategia interessante para se fazer quando se tem a curiosidade de cursar uma disciplina, mas a gente nao se sente confortavel com o conteudo ou esta inseguro se ele sera util e ser "ouvinte", ou "auditing". A vantagem de participar de uma disciplina assim e que voce nao e oficialmente aluno, nao tendo nome na chamada (podendo faltar quando quiser) e nao precisa entregar o trabalho. Mas a sua participacao e acesso aos conteudos e de um aluno regular.

Participei de algumas disciplinas dessa forma e sempre o conteudo que a gente tem acesso e interesssante. Outra coisa que pode acontecer eh que voce pode estar em um momento em sua pesquisa em que voce nao tera tempo para se dedicar a confeccao de um artigo ou paper no final da disciplina. Ou os conteudos que voce estudou nem sao tao interessantes assim para a sua pesquisa, nao valendo a pena usar o seu tempo para fazer um artigo. Sendo "ouvinte" voce esta liberado dessa responsabilidade.

Minhas disciplinas no PhD estao relacionadas a metodologia de pesquisa. Achei todas interessantes e validas. Serviram para que eu tivesse varias ideias de como triangular dados e conhecer toda a nomenclatura e approaches das pesquisas qualitativa e quantitativa. Hoje tenho certeza dos tipos de pesquisa que posso ou nao utilizar. Como elas eram obrigatorias, estou tentando fazer o maximo e escrever os melhores assignments que posso.

Independentemente da postura que voce ira adotar, o que vale a pena e se dedicar. Ja fui ouvinte e entreguei o trabalho mesmo assim. O professor disse que corrigiria e que daria o feedback. Isso e interessante quando voce quer testar se entendeu determinado conteudo ou nao. Para o professor, isso tambem e interessante, caso voce nao seja um aluno regularmente matriculado, pois ele pode usar essa estrategia para te conhecer melhor e ver se voce e um potencial futuro aluno. Isso tambem aconteceu comigo no mestrado. Foi assim que encontrei a minha orientadora. Tudo vale a pena.


terça-feira, 26 de agosto de 2014

Escrita acadêmica II - reporting words

Acho que todo pesquisador tem problema com as "reporting words". Chega uma hora que ninguém aguenta mais escrever "de acordo com..." ou "segundo...".
Já não basta que algumas dessas palavras são usadas no jornalismo e são muito informais, do tipo "... disse fulano".
Reconhece-se a qualidade da escrita do pesquisador em função dessas palavras. É através dela que os leitores percebem se o autor que ele está citando "disse", "afirma", "propõe", "enfatiza", "acredita"... entre outras palavras.
Primeiramente é bom alterar as palavras para não usar sempre o "de acordo com...". É muito chato e repetitivo.
Em segundo lugar, isso demonstra o quanto você percebeu o tipo de argumento o autor está usando e o peso que essa afirmação (se for uma) possui.
Abaixo segue uma lista de palavras-chaves e algumas opções em Inglês que eu sempre recorro quando estou escrevendo:

show: demonstrate, establish.
persuade: assure, convince, satisfy.
argue: reason, discuss, debate, consider.
propose: advance, propound, suggest.
advise: suggest, recommend, advocate, exhort, encourage, urge.
believe: hold, profess (the view that …).
emphasise: accentuate, stress, underscore.
support: uphold, advocate.
state: express, comment, remark, declare, articulate, describe, instruct, inform, report.
examine: analyse, discuss, explore, investigate, scrutinise.
evaluate: appraise, assess.
hypothesise: speculate, postulate.
claim: allege, assert, affirm, contend, maintain.
disagree dispute, refute, contradict, object, dissent.
reject refute, repudiate, remonstrate, (against), discard, dismiss, disclaim.

Fonte: Incorporating sources in academic writing: University of Melbourne

Escrita acadêmica I - thesaurus

Bendito o dia em que me apresentaram o thesaurus.
Na verdade, eu já conhecia ele, mas nunca dei muita bola. Agora, não sei viver sem ele.
O thesaurus é um dicionário de sinônimos.
Sabe quando você escreve uma parágrafo e repete três vezes a mesma palavras? É nesse momento que o thesaurus entra entra em ação.
Todo mundo tem manias e vícios de linguagem e eu tenho um problema sério com as palavras "potencialidade" e "possibilidade". Chega uma hora que você não sabe mais o que usar e acha que só essas palavras expressam o que você quer. Mentira! E o thesaurus está aí para provar o contrário.
Você pode acessar online. Tenho usado o thesaurus.com.
Quando estou escrevendo em um computador cujo editor de texto está em Inglês uso o do próprio programa. É só selecionar a palavra, clicar com o botão direito do mouse e escolher sinônimos (ou 'thesaurus' em Inglês). Acho o recurso do editor de texto um tanto quanto limitado. Gosto mais de usar o online, porque há mais opções.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Impossível não pensar assim às vezes...






Verbos úteis para usar nos objetivos:

Quando você pretende trabalhar a elaboração epistemológica de algum elemento: apontar, definir, enunciar, registrar, relatar, sublinhar e nomear.
Quando você pretende indicar a compreensão de algo: descrever, discutir, esclarecer, examinar, explicar, identificar e localizar.
Quando você pretende analisar algum fator: classificar, comparar, constatar, criticar, debater, diferenciar, distinguir, examinar e investigar.
Quando você pretende sintetizar: constituir, coordenar, reunir, organizar e esquematizar.
Quando você pretende avaliar: avaliar, eliminar, estimar, julgar, selecionar e validar.
Adaptado de http://www.ebah.com.br/content/ABAAABo2AAG/verbos-mais-usados-pesquisas-cientificas (acessado em 25/08/2014)

Projeto de Pesquisa - Parte III - Introdução.

Eu estou no meio da reescrita do meu projeto de pesquisa. Definitivamente ele não está quase nada parecido com o que eu havia escrito quando entrei no programa.
O que eu acho que é mais difícil de se escrever é a introdução, os objetivos, a justificativa e as perguntas de pesquisa.
Na verdade, acho que as perguntas de pesquisa são as "menos difíceis" de se escrever. Por que você sabe quais são os questionamentos que pretende responder. Quando comecei a rescrita, fui intuitivamente seguindo esses passos:
1. Perguntas de pesquisa: escrevi o que eu queria responder, a partir daquilo que me intrigava. A curiosidade é o que move o pesquisador e sempre é necessário manter esse espírito.
2. Problemática: as perguntas existem, porque elas são geradas por um problema e esse problema precisa ser resolvido. Essa parte é aquela que você conta uma historinha do contexto em que você está inserido e o que te levou a fazer essas perguntas para o universo.
3. Hipótese: o que você acha que poderá ser a resposta das suas perguntas - uma dica que o universo está te dando em relação ao contexto em que você está pesquisando. É nesse momento em que eu sofro, porque sou péssima em explicar a "relevância" da minha pesquisa. É preciso mostrar o porque ela é importante em relação às outras pesquisas que existem na área, em relação às perguntas que não foram respondidas (mas isso vai aparecer dentro do projeto, não perca muito tempo com isso, seja breve.).
4. Objetivos: depois de colocar as perguntas, descrever o problema e o contexto em que ele está inserido e o que você acha que vai encontrar, fica mais fácil colocar o que você vai fazer. Os objetivos são separados em objetivos gerais e específicos. Nos "gerais" você deverá explicar a temática da pesquisa em termos gerais, como por exemplo, "o uso da tecnologia em sala de aula" (que é o meu tema). Nos específicos você deverá especificar e detelhar em que sentido pretende pesquisar esse tema geral: identificando... analisando... verificando... há verbos específicos que podem ser usados nesse item.
Quando você terminar esse processo, terá sua introdução pronta. Tem gente que escreve isso no final do projeto, começando pela revisão bibliográfica, tem gente que começa por ele. Eu faço um rascunho antes da revisão e reescrevo depois de ter concluído a metodologia.


Projeto de Pesquisa - parte II

A primeira coisa que o pesquisador precisa saber e ter consciência é que o projeto de pesquisa não é permanente.
Há momentos em que ele faz sentido. Há momentos em que ele precisa ser retomado e momentos em que precisamos reescrevê-lo. Isso não quer dizer que a qualquer artigo que você leia ou qualquer livro que você encontre é necessário alterá-lo. Não é isso.
Digamos que, antes de entrar no programa de pesquisa que você está pleiteando, você elaborou e escreveu sobre uma "ideia que você teve sobre o assunto que quer pesquisar". Essa ideia te ajuda a aprofundar a revisão bibliográfica e a redefinir "o que você quer fazer", com "o que dá para fazer", que são coisas bem diferentes.
Ao longo do primeiro ano, em que você está aprofundando as leituras e delineando os aportes teóricos que irá utilizar porque fazem sentido para você e para o seu tema, é necessário retomar o que você tinha imaginado como viável.
Nem sempre o que a gente "imagina" como viável é o que vai realmente acontecer. E o pesquisador precisa estar aberto para isso. Um projeto que não se adequa ao longo da pesquisa pode ficar engessado e não percerber as mudanças e as nuances que o tema vai adquirindo ao longo do tempo. Ou pior, não perceber os que os dados estão evidenciando.
Você pode ter certeza que não é o único no mundo a fazer pesquisa e que novas afirmações e questionamentos são feitos o tempo todo e é preciso que isso apareça no seu trabalho.
Uma pesquisa que foi baseada em um projeto que não teve uma alteraçãozinha é problema. Um pesquisador que escreve o capítulo de revisão bibliográfica nos seis primeiros meses de pesquisa demonstra uma certeza absoluta que talvez não reflita o que o campo está  pensando, mostrando apenas afirmações cristalizadas ao longo do tempo. O que de novo essa pesquisa trará?
Pode ser que isso não se aplique a todos os tipos de pesquisa nas humanidades, mas sempre desconfie de pesquisadores que possuem muita certeza do que estão fazendo.
Muitos podem não assumir, mas dificilmente um projeto termina da forma como começou.
O melhor momento de revisitar o projeto de pesquisa e verificar se suas perguntas de pesquisa são as mesmas ocorre em dois estágios:
1. depois da revisão bibliográfica: em que você checa se as perguntas  feitas são pertinentes em relação ao que a teoria está te mostrando;
2. depois da coleta de dados: porque muitas vezes os dados que você coletou te mostram evidências que são tão inesperadas que não podem ser ignoradas e isso merece ser levado em conta com alguma adaptação.
O interessante de perceber esses momentos é o quanto a sua pesquisa está avançando durante o processo. Isso faz parte e não se esqueça de confiar no seu orientador, porque muitas vezes ele percebe coisas porque está "de fora" e porque nós ainda não temos maturidade como pesquisadores para perceber isso.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Keep Writing

Uma das primeiras licoes que a minha supervisor me ensinou foi sobre a escrita. Ela me disse: nao importa o que voce estiver fazendo, escreva. Esse foi o primeiro e eterno assignment que ela me passou.

A estrutura do PhD e de tres anos, entao eu vim com a mesma ideia da estrutura de cronograma que eu coloquei para mim mesma no mestrado: primeiro ano pesquisa e revisao bibliografica; segundo ano pesquisa de campo e complementacao de leituras; terceiro ano analise e escrita da dissertacao.

Eu li muito naquele periodo e realmente estou lendo agora. Mas para todos os temas que eu leio, ela me cobra 'uma escrita', 'um relatorio' informal sobre a importancia daquela tematica para a minha pesquisa. Eu escrevo de forma academica, com citacao, fonte e toda a formatacao necessaria, correlacionando todos os temas.

O primeiro beneficio que eu estou tendo e que eu nunca escrevi tanto em Ingles na minha vida. Em cinco meses, foram (eu vou ter a coragem de contar agora) 303 paginas. A cada duas semanas eu tenho escrito um assigment de 10 paginas e isso rende mais algumas paginas de anotacoes dos livros que eu estou lendo.

O segundo beneficio e que eu tenho material suficiente para a parte teorica da minha tese, com algumas reflexoes. Alem disso, isso pode virar material para publicacao de artigos, desde que reorganizados.

O terceiro e melhor beneficio e a facilidade com que eu estou escrevendo. Escrevo quatro a cinco paginas em meio dia, sem problemas para correlacionar os temas e incluir as citacoes.

Ela estava certa quando me pediu para escrever e com certeza eu vou usar (pode ser que nao tudo) boa parte do que eu estou fazendo agora para a construcao da versao final da minha tese.

Nao tem aquele papo de bloqueio: eu simplesmente escrevo.

Ouvi numa palestra que e muito facil lidar com a escrita da tese quando a gente esta bem. tudo que a gente faz, faz com confianca e acredita no trabalho. O problema e quando a gente esta mal. A gente tenta fugir, evita, nao faz e quando realmente precisa retomar e um sofrimento. A gente nem sabe como comecar. Quando escrever se torna uma rotina, um ato mecanico, nao tem sofrimento.
Estando de bem ou de mal com a vida, tanto faz, vc simplesmente escreve.

E igual dirigir um carro de mau humor, vc so dirige. E e isso ai.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

O primeiro assignment a gente nunca esquece...

Hoje foi o dia de entregar o meu primeiro assignment. A experiência foi interessante porque entrega de 'trabalho' é a mesma coisa em todo lugar: sempre dá um frio na barriga.
A gente sabe que precisa checar, ler, reler e sempre acontece alguma coisa de errado e inesperado.

Uma das primeiras coisas que eu faço junto com o texto e deixo só para conferência são as referências.
Você sabia que a gente usa a palavra 'referências' só quando a gente coloca todas as referências do texto e 'bibliografia' quando há livros que não foram mencionados no meio do texto? No Brasil, pelo que eu me lembro, usar 'bibliografia' implica que você usou só livros e as 'referências' você pode ter usado artigos, documentos. Sei lá. O que vale é seguir as regras de onde você está.
Ninguém dá importância para as referências e com certeza, seu professor vai dar. Um professor meticuloso vai ler o trabalho batendo todas as referências e você não vai querer ter pontos descontados por causa disso. Vai formatando na medida que for escrevendo. Quando você terminar o texto, ela já estará pronta. É muito mais fácil. Depois quando você for revisar, terá mais atenção com os detalhes, porque seus olhos não estarão acostumados com o texto. Sabe quando você mexe tanto na coisa que nem percebe mais os detalhes? Então, isso não acontece quando você formata as referências ao longo do texto.

As indicações de figuras, anexos, sempre olhe qual o padrão, por exemplo você colocou anexo 1 no texto e no anexo está escrito anexo A. Muita atenção. As vezes a gente não percebe como faz as indicações e acaba não prestando atenção porque não é uma informação muito importante. De novo são pontos descontados por besteira.

Conte as palavras. Pelo menos aqui na Inglaterra o número de páginas não conta, mas sim o número de palavras. A vantagem é que as referências não fazem parte da contagem e nem os anexos, então você pode colocar quanto livros quiser (desde que tenha usado todos).

Sempre salve uma cópia do seu trabalho pronto como 'versão final'. Depois de pronto, eu faço pelo menos duas leituras para correção e, fala sério, sempre tem coisa para corrigir. Mas salve em mais de um lugar e 'se mande' por e-mail. Assim você tem sempre mais de uma cópia.

E nunca, nunca, deixe para entregar no último dia. As impressoras quebram e ficam sem tinta, os sistemas caem, a internet para de funcionar, chove, os horários dos 'offices' são reduzidos... Enfim, tudo acontece no dia da entrega e você pode ainda estar zicado(a) e ter que arrumar mais alguma coisa que esqueceu. Esse foi o meu caso.

Eu não tinha visto que era necessário colocar uma capa especial e quase que eu entrego sem a bendita. A vantagem foi que eu encontrei com outros alunos do programa que já haviam entregue a versão deles e me mostraram como era para formatar a capa.

Isso é outra coisa boba, mas importante: a formatação. O formato de elaboração de trabalhos varia de universidade para universidade e é bom checar com os colegas sempre! Sempre converse com eles porque eles podem saber coisas que você não sabe a respeito do que precisa entregar.

A vantagem é que depois e entregar o primeiro, os outros serão da mesma forma, então fica mais fácil. Ai é você que vai ajudar os outros.





segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Comecando uma pesquisa do zero

Nao sei quanto a voces, mas eu nao tive boas aulas de metodologia cientifica. E o mais engracado e que na pos-graduacao as pessoas partem do pressuposto que voce ja sabe alguns termos como pesquisa empirica, etnografia, SPSS... e muitos outros.
Acho que antes de mais nada, se voce esta a fim de fazer, mas nao sabe direito como vai fazer, a melhor coisa e pegar um bom livro que fala o que e pesquisa, o que ela demanda, os tipos, suas implicacoes, as formas de coleta, processamento e interpretacao dos dados que voce coletou.

Os livros que achei interessantes seguem abaixo. Eles sao bem grandes e bem detalhados. Alguns estao baseados em pesquisa nas Ciencias Sociais e outros o foco maior e em Educacao. Acho que vale a pena o investimento.


Cohen, L.; Manion, L. & Morrison, K. (2011) Research methods in education. 7th ed. London: Routledge.
Newby, P. (2010) Research methods for education. Essex: Longman.

Punch, K. F. (2014) Introduction to social research: quantitative & qualitative approaches. London: Sage.
Robson, C. (2011) Real world research. 3rd ed. Chichester: Wiley.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Reuniao com o orientador

Acho que nao tem um que nao sai tonto da reuniao com o orientador.
Acabei de ter uma e foi desse jeito.
Na verdade todas tem sido.
E a pior coisa que tem e voce sair com a sensacao que discutiram muitas coisas, acertaram muitas coisas e no fim sempre aparece aquele sentimento que voce deixou passar algo.
Eu nao confio na minha memoria e por isso desenvolvi algumas estrategias para nao perder nada.
 Alem disso, voce pode ter certeza que eu orientador esta te dizendo coisas desde o primeiro encontro e repetindo essas coisas e as vezes voce nao esta maduro o suficiente para ouvir e entender o que esta sendo dito. Aconteceu no mestrado e esta acontecendo agora novamente no doutorado.

1. Gravar a reuniao.
Nao tem erro porque esta tudo la! Sempre carrego meu tablet comigo e gravo tudo o que esta acontecendo. Ouco de novo? Sim, para transcrever o que foi dito e acertado. E claro que nao como um profissional, mas anoto os pontos importantes com detalhes, indicando a teoria. Assim fica muito mais facil pra checar o que foi feito ate a proxima reuniao.

2. Anotar os pontos importantes.
Nao importa que eu esteja gravando tudo, sempre anoto os pontos importantes, justificando o porque. Anoto tambem as minhas duvidas. Nao sou muito de desenhar esquemas, por isso sempre escrevo como se fossem relatorios.
Desenvolvi um modelo de relatorio a ser preenchido indicando elementos que sao importantes de serem ressaltados:

data
nome do orientador (porque eu tenho dois)
se ha audio gravado e qual o nome do arquivo
se ha submissao de paper a ser discutido
se havera correcao do paper e quando sera submetido
comentarios sobre o paper
combinados
comentarios extras
proxima reuniao

Esse modelo tem funcionado para o meu estilo. Cada um pode desenvolver o seu de acordo com a sua pesquisa e area.
E bem legal olhar reunioes antigas e perceber o avanco da pesquisa e o quanto voce tem se dedicado.




quinta-feira, 24 de julho de 2014

Projeto de Pesquisa - por onde comecar


Todo aluno de pos-graduacao, seja ela Stricto ou Latu sensu ja passou pela experiencia de ter que elaborar um projeto de pesquisa.

Dependendo da modalidade da pos, ou voce desenvolve ele durante o curso (Latu sensu) ou voce precisa dele para entrar (Stricto sensu). Quando voce da a sorte de ter frequentado uma faculdade ou universidade decente, eles te ensinaram direito a elaborar uma pesquisa nas aulas de metodologia cientifica. Porem, se isso fosse verdade, a gente nao encontraria tantos livros sobre "Como elaborar o seu projeto de pesquisa" nas livrarias. E eles vendem muito!

Acho que o mais dificil e escolher o que a gente quer pesquisar. Como eu vou saber? As vezes a gente so e curioso e quer saber mais das coisas, mas que coisas?

O que nao ensinam pra gente na faculdade/universidade e que todo mundo precisa de um assunto de pesquisa. E quanto mais cedo a gente comeca a desenvolver essa pesquisa, mais minuciosa ela precisa ser. Um exemplo: "quero pesquisar a educacao no Brasil". Ai vem as perguntas: Como? Quando? Onde? Por que? e que sao bem amplas. Elas ate que nao sao tao dificeis de serem respondidas: Quero pesquisar a educacao no Brasil no Ensino Fundamental, nos ultimos 10 anos e verificar os avancos que ela teve. Otimo. Mas isso e muito amplo. Essa pesquisa levaria anos e talvez nao se chegaria a conclusao nenhuma.

O conceito de algo ser 'amplo' e a primeira coisa que a gente precisa aprender quando esta desenvolvendo pesquisa, e principalmente o projeto de pesquisa. E com essa palavra vem o conceito de algo ser 'especifico'. Nao ser pode ser amplo em pesquisa. Quanto mais especifico for o seu projeto, detalhado, focado, melhor, pois as pessoas (seu orientador e sua banca avaliadora de entrada no programa) terao um olhar sobre a viabilidade da sua pesquisa.

Mas (what the hell!!!!) e ser especifico? Pois bem. Isso e um conceito muuuuito relativo, variando de area para area, de universidade para universidade, de orientador para orientador, de banca avaliadora para banca avaliadora.

Partindo do pressuposto que voce esta cru, querendo escrever pela primeira vez seu projeto de pesquisa. Primeiro, se voce esta no Latu sensu, voce com certeza (pelo menos deveria) ter aulas em que desenvolveria esse projeto. Voce tem um possivel orientador, que as vezes pode ate ser o mesmo professor das aulas e ele vai saber mais que voce sobre o que seu projeto e. Mas isso passa tao rapido e voce confia tanto nele que nem sabe como foi aprovado e esquece tudo que aconteceu ate ter que escrever um projeto sozinho, pra valer.

Entao, voce precisa saber em qual programa quer entrar, com qual orientador, quem sao os parceiros dele(a) (e inimizades), qual e a linha de pesquisa teorica e as metodologias possiveis a serem utilizadas. Porque seu projeto pode estar muito bom, mas se nao estiver de acordo com nenhum desses itens, voce ta fora (alias, continua fora).

Regra numero um: saiba o assunto geral que voce quer pesquisar, responda as perguntas gerais (O que?, quando?, onde?, como?, por que?) e as especificas: sob qual ponto de vista? com qual metodologia de analise? com qual embasamento teorico? Essas ideias te levarao aos pesquisadores e universidades que desenvolvem pesquisa com o enfoque que voce quer dar e eles serao simpateticos com o que voce esta querendo fazer.

E leia. Leia o maximo que puder saber sobre o assunto que vc quiser pesquisar. Uma busca basica no google academico te mostra o que esta sendo falado sobre o assunto e uma busca basica no site de grandes livrarias ou mesmo na amazon te mostra o que esta sendo publicado no momento.

(Existe uma diferenca em pesquisa cientifica nas ciencias sociais e nas outras ciencias. Quero deixar claro que parto das Ciencias Sociais, mas pretendo falar das outras tambem. Talvez o que eu falar aqui nao se aplique a Ciencias Exatas e Biologicas)

Ainda pretendo falar mais um pouco sobre projeto de pesquisa: como lidar com a revisao bibliografica, a metodologia, a formatacao, o processo de avaliacao, o orientador... Mas isso vai ficar pra mais tarde.


Introduzindo

Sempre gostei de escrever e acho que compartilhar experiencias e uma rica forma de aprendizado. Tem coisas que a gente so aprende vivenciando. Mas tem coisas que se alguem avisar pra gente com atencedencia como funcionam faz com que os mesmos erros nao sejam repedidos infinitamente.
A ideia do blog surgiu primeiramente porque eu tinha tempo livre pra isso, porque escrever demanda tempo. No mundo louco que a gente esta tempo e uma coisa que esta em extincao.
Eu falo com conhecimento de causa porque falar sobre alguma coisa exige uma certa familiaridade. Estou no meu primeiro semestre de desenvolvimento da minha pesquisa, que tera tres anos de duracao. A idea e descrever como essa experiencia esta acontecendo. Ainda nao sei se esse blog tera um tempo de vida especifico, porque pretendo continuar pesquisando apos o PhD. Mas ainda e muito cedo para falar alguma coisa.
Aviso que estou na Inglaterra e que a acentuacao por aqui e um problema, entao me perdoem os falantes do portugues pela falta de acentuacao. Vou tentar editar todos os posts e colocar os acentos adequadamente.
Meu projeto e falar da experiencia em geral como aluna do programa, como pesquisadora, como brasileira, como mae e esposa, contando o que e desenvolver um PhD e quais sao as implicacoes e demandas que esse programa exige.
Qualquer duvida, comentario ou troca de experiencia e bem-vinda.
Espero poder ajudar na compreensao desse processo.