sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Travei

Isso acontece com todo mundo e pode ser a qualquer momento, sem motivo nenhum. Até agora eu não tinha travado. Em quase dois anos tenho escrito e nunca tive brancos ou empecilhos que não me deixassem escrever. Não posso falar que foi um branco, porque tenho coisa demais para falar na minha tese. Eu estava escrevendo uma análise e eu sabia exatamente quais os temas abordar. Já tinha todos os conceitos, as referências, as citações. Sabia como encadear o argumento. Mas eu sentava para escrever e não conseguia. Eu olhava para o texto e achava que era perda de tempo. Não entendia o porquê de sentar na frente do computador, tentar e não sair. A todo parágrafo que eu escrevia, eu pensava que não estava certo. Há uma discussão entre o uso de celulares em sala de aula e o mobile learning e era sobre isso que eu ia discurtir. Porém eu começava e parava. Estava sendo dolorido. E o que eu ouvia da minha consciência era 'é perda de tempo'. Demorei duas semanas para tentar entender a razão, mesmo porquê eu teria que justificar para a minha supervisor o que estava acontecendo. Eu disse para ela que eu sabia quais os tópicos teóricos usar, que estivessem relacionados com a aula que eu estava analisando; conseguia estabelecer a relação entre os elementos do mobile learning e a problemática do uso de celulares em sala de aula; mas eu não estava convencida da estrutura que eu estava tentando usar na análise. Não era um problema de conteúdo, mas de estrutura. Eu achava que a forma como eu estava escrevendo não refletia a perspectiva teórico-metodológica que estou me baseando. Se você está defendendo algo, deve se apoiar nisso, não usar estratégias e recursos que dizem o contrário do que você está fazendo. Se sua pesquisa é realista, você deve usar métodos e teorias que reflitam o que você está fazendo. Se você adota um perspectiva subjetivista, suas análises serão baseadas em interpretações, não em estatística. Foi a falta de uma estrutura apropriada que fez com que eu não estivesse convencida do que eu estava tentando dizer. Estou refletindo em como fazer isso, mas me tranquiliza saber que o motivo não foi a minha falta de conhecimento do assunto, mas a necessidade de elaboração de uma estrutura inovadora. Espero descobrir como fazer isso. Mas só em Janeiro. Boas Férias.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Pequenas Conquistas

O processo de desenvolvimento do doutorado é lento, durando de três a cinco anos. A princípio parace interminável, mas de repente você já está na reta final. Em um mês estarei entrando no último ano, cujo foco é a escrita. Já estou com praticamente tudo pronto para começar. Porém, sāo tantas as coisas que acontecem ao mesmo tempo nesse processo, que se você não tiver claro quais são seus objetivos e quais são os passos que você tem que passar para chegar lá, você se perde e não consegue perceber as pequenas conquistas que vão surgindo. Damos a maior importância e atenção para o resultado final: a tese escrita, mas esquecemos que o término da leitura de toda a teoria necessária também é, ou, que manter a lista de referências e publicações do Endnote atualizada também é uma façanha que poucos conseguem. Hoje fui devolver cinco livros na biblioteca e se tudo der certo até sexta-feira devolverei mais dois, pelo menos. Essa devolução representa que algumas coisas já foram concluídas e irei partir para a próxima parte ou passo. São nesses pequenos detalhes de devoluação de livros, de término de escrita e de pequenas organizações que a gente tem que perceber que as coisas estão andando e se parabenizar por isso. Todas as vezes que conseguir fazer alguma coisa assim, pare e perceba que mais um passo foi dado e se dê uma recompensa, pois aquilo foi feito com esforço. Isso ajuda a lembrar o quão importante é o processo e que você merece estar fazendo a sua pesquisa. Cheers!

sábado, 5 de dezembro de 2015

Analisando, analisando, analisando...

São tantos os dados e as informações que o trabalho de campo traz que às vezes a gente fica perdido sem saber direito o que fazer. Por onde começar é facil: você olha tudo, como se fosse 'rever' ou 'recapitular' o que aconteceu. Daí você começa a atribuir sentido em tudo o que você viu ou experienciou, talvez codificando, atribuindo sentidos e termos para nomear o que aconteceu. Depois você tenta explicar o que aconteceu interpretando os dados e as informações. Mas fazer tudo isso não lhe dá garantia de que alguma coisa saia dali. E isso causa muita ansiedade, insegurança, depressão. Esse trabalho é infinito e interminável. Mas é necessário manter a fé enquanto se faz. Como pesquisador e expert na área em que está atuando, você deve ter o feeling e seguir seus instintos sobre o que o trabalho de campo te mostrou. Existem coisas que ao serem presenciadas você já sabe que são relevantes, você sabe que isso deve constar nas suas análises. Porém, o que você não considera como relevante deve ser colocado de lado por um momento. Depois você retomar esses dados, checando novamente se o que foi ignorado deve realmente ficar de fora e porquê. Isso dará segurança do que incluir e não incluir, reforçando a narrativa que está por trás da história do seu PhD. Considerar o PhD como uma história a ser contada ajuda no estebecimento da coesão e da coerência dos elementos a serem usados para integrarem a tese. Mas o cuidado que deve se ter é se os elementos que foram escolhidos para contar essa história são os mais relevantes e se condizem com a realidade, não negligenciando outros fatores importantes também. Cuidado é preciso.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Relatórios para renovação da bolsa - exercício de autoavaliação

Quando se tem uma bolsa de estudos é necessário efetuar relatórios de prestação de contas. O objetivo desse relatório é justificar o porquê da renovação da bolsa em função do avanço da pesquisa. O preenchimento desse relatório é algo burocrático, mas ao mesmo tempo é interessante efetuá-lo com o olhar de quem está avaliando sua produção ao longo do ano. Um ano passa muito rápido e se o planejamento não for seguido à risca e não você não ficar atento, de repente não se tem mais tempo para nada. Se no momento que você for escrever, verificar que não produziu muita coisa ao longo do ano, esse é o momento para analisar o porquê que isso aconteceu: distribuição de tarefas no tempo, falta de organização, experimentos que deram errados... Sempre há contra-tempos, mas é necessário estar preparado para eles e replanejar o que se está sendo desenvolvido e como. Nesse relatório você consegue observar o quanto progrediu, os eventos que participou, os contatos que fez e rever o calendário que você planejou. É bem gratificante reconhecer o quanto se fez e o quanto se progrediu em um ano, porque quando se é aluno full-time a gente quase não percebe esses detalhes. Olhar para esses relatórios como comprovação do seu sucesso, desempenho e desenvolvimento é uma forma de mostrar para a sua agência mantenedora que o investimento em você valeu e ainda vale a pena. Não se esqueça também que esse é só o início da sua carreira como pesquisador e que as pessoas que hoje analisam os seus relatórios podem estar analisando os seus pedidos de financiamento no futuro... Be proud of yourself.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Análise - Como fazer (Etnografia)

A pesquisa etnográfica se constitui de observação de um determinado ambiente e as relações sociais entre os membros participantes daquele ambiente. A análise dos dados etnográficos primeiramente se constitui de leitura. É necessário ler todas as anotações de campo depois de terem sido coletadas. Porém, durante as observações, existem momentos importantes e momentos de insight que não podem ser deixados de fora. Eu começaria a análise por esses momentos marcantes. Primeiramente leitura. Tentar remontar o contexto, a ambientação, os sentimentos. Depois, fazer um exercício de relatar esse momento em narrativa, para uma pessoa imaginária que não tem a menor noção do que você está pesquisando e porquê. Tentar expressar aquilo que você viu e sentiu em um determinado momento é importante porque o leitor passa a reconhecer o ambiente em que você esteve. A partir daí você tem condições de levar o seu leitor a ter os mesmos insights que você teve e assim pode começar a sua análise. Esses insights provavelmente estarão relacionados com a teoria que você está usando para interpretar o que observou. Uma boa opção é, ao relatar o que você viu é levantar perguntas que estabeleçam um link entre o contexto observado e a teoria. Dessa forma você consegue fazer transições entre os tipos de texto e informações de uma forma suave, dando mais credibilidade ao seu raciocínio e tornando seu texto mais robusto.

Análise - primeiras observações

Minha orientadora tem uma forma de trabalhar diferente da minha. No entanto, eu confio plenamente nela e acredito em tudo que ela fala. Oficialmente eu ainda estou em coleta de dados que irá terminar em Dezembro/2015. Eu estaria agora finalizando as entrevistas e a coleta de documentos, me preparando para voltar a assistir aula. Por outro lado, ela me disse que seria interessante se eu começasse a rascunhar a minha análise. Achei estranho e senti que precisava terminar o que estava pela metade. Mas como ela me deu um deadline que se encerra na próxima semana, resolvi acatar. Foi a melhor coisa que ela fez. Primeiro porque eu estava sentindo falta de lidar com a teoria - ler, escrever e refletir sobre os conceitos que irei usar. Segundo porque o que tenho observado está fresco e os incidentes que considero como concluídos já podem ser trabalhados. Estou na primeira tentativa e tem sido bem difícil e fácil. Fácil porque eu sei o que eu quero escrever. Difícil porque eu não sei como escrever o que estou analisando. Vou ter a oportunidade de escrever e rescrever muitas vezes. Daí a vantagem de começar cedo. E uma vez que eu comecei, eu não quero mais parar.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Etnografia - Observações

O maior foco da pesquisa etnográfica é a observação de um ambiente específico. A ideia é observar como os participantes e componentes daquele meio ambiente se comportam. Há ampla discussão no meio acadêmico sobre os efeitos do observador no meio, até que ponto essas observações são ou não reais, uma vez que as pessoas podem não se comportar da mesma forma como se não estivessem sendo observadas. Outra questão é a quantidade de tempo gasto na observação. Alguns etnógrafos dizem que um ano é o ideal para se passar no campo. Há controvérsias. Independente dessas discussões, uma coisa é certa: a qualidade das anotações. O princípio básico das observações é usar o gênero descritivo durante o registro. Acreditava-se que com essa escolha, haveria a imparcialidade por conta do observador no relato do ambiente. Porém, há controvérsia sobre isso, pois a escolha de palavras e a forma como o campo é 'olhado' é feita de forma subjetiva, a partir da vivência, conhecimento de mundo e preconceitos do observador. Para evitar fazer análise enquanto observo, tenho dois diários: um seria o diário de campo, em que anoto tudo o que eu vejo, da forma como acho que está acontecendo e outro que seria meu diário reflexivo. Se tenho alguma questão ou comentário durante a descrição do diário de campo, coloco entre colchetes. Esses colchetes eu deixo nesse arquivo mesmo. Porém, ao final do dia, quando retomo as anotações para fazer a correção ortográfica, gramatical e de coesão, abro meu diário reflexivo e comento aquilo que vi, coloco todas as minhas impressões, julgamentos, sugestões e opiniões lá. Justifico o porquê que eu acho que algo está ou não acontecendo e levanto mais questões sobre o que eu tenho observado. O processo tem sido interessante e me faz me sentir melhor por estar desenvolvendo um registro de observação mais completo. Ainda estou fazendo anotações porque estou no meio do trabalho de campo. Vou processá-las no NVivo, mas vou pensar nisso só após Janeiro.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Atualização - trabalho constante

De acordo com os Módulos de Pesquisa em Ciências Sociais, o primeiro passo para desenvolver um estudo é fazer a pesquisa bibliográfica/de referências e daí com os resultados escrever a revisão de literatura, que poderá se tornar o seu primeiro capítulo. Porém, isso dá a impressão de que, uma vez terminada a revisão de literatura, você já escreveu tudo o que poderia ter sido escrito na sua área, referente ao seu estudo. O meu programa tem três anos. O doutorado na minha antiga instituição tinha cinco. Ao final do quarto ano, tudo aquilo que você escreveu já ficou 'velho', principalmente no que se refere à tecnologia. Não importa que você já tenha 'concluído' a sua revisão de literatura. Ela estará sempre em 'ongoing progress'. É necessário que você esteja atualizado com as publicações e estudos desenvolvidos na sua área a faça referência a eles, em relação às contribuições no campo. Se você não fizer, no momento da defesa ele já estará 'vencido'. A maioria das publicações possuem uma periodicidade, que pode ser trimestral, semestral ou anual. Dependendo do seu tema, vale a pena refazer a pesquisa bibliográfica a cada seis meses ou um ano para atualizar a sua lista de referências (é para isso que servem programas como o Endnote, já referenciado aqui). Assim você atualiza a sua lista de referência e se mantém informado sobre o que está acontecendo no mundo da pesquisa.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Secondary Data Analysis x Document Analysis

Alguns termos em Inglês causam confusão no pesquisador quando ele está desenvolvendo sua pesquisa no que concerne às origem das fontes (primária e secundária) e a origem dos dados (primários e secondários). Sempre partimos da relação do pesquisador com o elemento de referência. Se você está usando um conceito, tirando ele de um artigo ou livro em que ele é usado pela primeira vez, isso implica que você está retirando esse termo da fonte 'primária', ou seja, voce vai citar o autor da obra em que ele cunhou o termo. Se você for citar um livro/artigo que nao é a fonte de origem, mas cita a fonte de origem, ele será a fonte secunária, mas conhecido como apud. Porém, quando você lida com dados, é necessário tomar cuidado. Quando você coleta os dados em uma entrevista ou questionário e os têm brutos, eles são a sua fonte primária de informação. Voce irá lê-los, analisá-los, interpretá-los para chegar nos resultados. O trabalho de coleta foi seu. Quando você usa dados que outra pessoa/órgão coletou, por exemplo o IBGE, o trabalho bruto e os dados brutos são do IBGE, nào seus, você estará desenvolvendo Secondary Data Analysis. Não há problema nenhum nisso. Você estará não somente reavaliando os dados do órgão, mas processando-os. Esse é um detalhe fundamental, porque realizar Secondary Data Analysis implica em você pegar os dados numéricos brutos e reprocessar tudo, usando softwares de estatística e dai chegar em um resultado. Você não irá realizar a análise da análise feita pelo IBGE, ou qualquer outro órgão. Quando você analisa o que ja foi feito por outro órgão, por exemplo se você analisar o Censo, isso quer dizer que você não está processando os dados novamente, mas sim examinando os resultados, que já foram apresentados em um documento. Então você estará fazendo Document Analysis, que é algo também válido. Não há problema nenhum em optar por Secondary Data Analysis ou Document Analysis. O que deve estar claro para o pesquisador são os procedimentos e implicações de cada tipo de pesquisa.

domingo, 12 de julho de 2015

Renovação de Bolsa - tempo extra

Acho que vale a pena comentar um dos assuntos mais discutidos entre os pesquisadores que estão aqui comigo em Bham. A maioria veio para cá com um contrato de três anos de bolsa para realizar o doutorado pleno. Alguns, que são da área de exatas e biológicas perceberam que precisariam de um quarto ano para concluírem seus estudos. A maioria percebeu isso entre o segundo e o terceiro ano e outros perceberam no terceiro ano. Alguns solicitaram a prorrogação da bolsa para o 4o ano na renovação do 2o para o 3o ano. Outros solicitaram isso ao final do terceiro, quando deveriam estar submetendo suas teses. Alguns conseguiram a extensão da bolsa. Outros só a renovação, mas 'sem ônus' para a agência de fomento. Não sei quem fez certo ou errado. Minha área é humanas e não dependo de laboratório/experimentos para desenvolver o meu estudo. Meus dados são coletados por entrevistas, observações e análise de documentos, que, por sua vez, podem comprometer o desenvolvimento da minha pesquisa se eu não me programar adequadamente. Não sei qual foi o problema. Não vou precisar do 4o ano. O que sei é que tenho três planos diferentes do que fazer no 3o ano e como concluir os meus estudos. Desde uma perspectiva pessimista a uma otimista. O que eu percebo é que as pessoas contaram como certo algo que não estava oficialmente previsto e não se planejaram para a pior perspectiva. Há várias interpretações diferentes sobre esse problema e muitas opiniões inflamadas. Agora não adianta mais. É necessário trabalhar em cima do cronograma real e ver o que dá para ser feito. Afinal, pesquisa acadêmica tem cronograma e ele deve ser seguido. E eu estou seguindo o meu.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Avaliação de meio de período

Estou no meio do meu período de coleta de dados. Tenho um cronograma que estou seguindo. Da forma como eu planejei? Não, mas está acontecendo, aos trancos e barrancos. Ontem fiz um levantamento de tudo que eu já fiz e o que falta fazer. Não parece, mas fiz bastante coisa. Tenho a impressão de que não fiz nada, mas fiz essa lista para mostrar a mim mesma o que já consegui. Desenvolver pesquisa é assim mesmo. Às vezes você tem a impressão de que já progrediu muito, mas não saiu do lugar. Às vezes você acha que não saiu do lugar e já fez muita coisa. A questão é ter claro o que você quer e o que você precisa para manter o seu trabalho andando e não deixar que esses altos e baixos não afetem o seu humor e o seu rendimento. O mal humor e o desânimo fazem parte da rotina de pesquisa e são momentos em que você deve repensar o que está fazendo e o que precisa fazer. Dar aquela organizada no calendário, fazer uma limpeza nos papeis, devolver os livros que você definitivamente não vai ler e ser pragmático. Na metade do caminho você sabe bem o que vai fazer e o que precisa fazer.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Férias

Essa é uma palavra que um aluno de PhD não acredita existir. Uma vez aluno Full-time, você realmente precisa ter muita dedicação e organizar o seu tempo de uma forma que o seu projeto ande e renda. Muita coisa depende de fatores externos, que devem ser levados em conta no momento da programação do calendário anual e uma delas são as férias. Elas são saudáveis e necessárias. Se afastar um pouco da pesquisa faz bem e faz a gente perceber o que não está vendo. Programe no mínimo uma semana de férias por ano. Mas não vale ser a semana do Natal. Tente não acessar e-mail e não leve nada para ler, porque não é esse o propósito, de colocar as outras coisas em dia... Vá para um lugar diferente, que não te lembre o ambiente de trabalho e aproveite. Você vai ver que esse tempo será muito bem aproveitado e perceber o quanto ele faz falta.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Transcrições de audio

Dependendo do projeto que você desenvolve, uma das formas de coleta de dados é a entrevista. Para o meu estudo, estou observando aulas e entrevistando pessoas relacionadas ao ambiente que estou observando e também pessoas relacionadas à educação em geral. O processo de desenvolvimento do questionário envolve elementos específicos que não vou abordar agora, mas com certeza as perguntas têm um propósito, a ordem que elas aparecem não é randômica e às vezes você precisa de uma explicação, ou prompt, como chamamos. Nem preciso falar que é interessante 'pilotar' a entrevista para ver se não tem nada de errado com as perguntas... Enfim, vamos supor que seu questionário está ótimo. Você terá dois tipos básicos de entrevistados: os que falam muito e os que falam pouco. Não sei se dá para medir alguma coisa, mas vamos tirar como base o meu interview schedule que tem 18 perguntas. Uma pessoa que fala pouco tem demorado 15 minutos para responder. Porém, uma pessoa que fala muito demorou 40 minutos para responder a mesma coisa. 40 minutos é menos que uma hora e a pessoa que não tem prática vai achar que não vai demorar muito para transcrever. Esse transcrição de 15 minutos demorou três horas. A pessoa falava claramente e pausadamente. Não tive problemas. Porém, uma pessoa que demorou 18 minutos para responder 30 perguntas, porque ela falava pouco, demorei seis horas para transcrever. Isso aconteceu porque a pessoa tinha uma dicção ruim e eu não estava acostumada com o sotaque. Essa é outra questão: lidar com transcrição em outra língua. Na nossa língua materna, você infere o que a pessoa fala por conta do contexto. Mas em outra língua, às vezes as pessoas usam um vocabulário específico com gírias e expressões que não dá para prever. Só a título de curiosidade, ainda não fiz a transcrição de 40 minutos. Estou enrolando para fazer porque sei que vai dar um trabalho danado. Estou fazendo as entrevistas e transcrevendo no máximo na semana seguinte. Primeiro para não esquecer o que aconteceu e não perder o contexto e segundo para não deixar acumular. Eu enjôo fácil do que eu estou fazendo e preciso ficar mudando de tarefa. Se eu fosse só fazer entrevistas e depois só fazer transcrições, seria muito chato. Um dos outros pesquisadores daqui fez cerca de 30 entrevistas, todas de uma vez só e não transcreveu nada. Agora ele irá transcrever. Perguntei para ele quantas horas de audio ele tem e ele não me disse. Se for para tirar uma média das minhas entrevistas, se ele entrevistou 30 pessoas e levou 30 minutos cada, são 900 minutos. Se eu levar cinco horas a cada trinta minutos, vou precisar de 150 horas. Isso daria seis dias ininterruptos. Se você trabalhar oito horas por dia, daria 20 dias. Parece pouco. Mas acho que é muito trabalho para deixar para fazer tudo de uma vez. Acho que ir transcrevendo na medida em que se vai entrevistando é uma boa opção porque você não deixa esfriar a memória e não se sobrecarrega de fazer uma coisa ou outra.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Professores

Esse é um assunto delicado. Como em qualquer situação que envolva relações de poder e que, provavelmente você não está em uma posição privilegiada. Dependendo do programa de pós-graduação que você faz parte, é necessário cursar algumas disciplinas. Essas disciplinas possuem instrumentos de avaliação para medir se você teve um bom aproveitamento. Então... A discussão sobre a validade, eficiência e formas de elaboração de instrumentos de avaliação é ampla e não é recente. Discute-se muito o que medir, como medir e se medir é a ação adequada. Independente da discussão, você terá que escrever um monografia, um paper, um assignment, participar de uma apresentação. Seja lá o que for, você vai ter que fazer alguma coisa para ser avaliado por alguém. E aí está a questão. Por mais discussão que haja e por maiores que sejam os avanços que a pedagogia tenha tido, o professor ainda continua sendo "o dono da caneta". Não adianta vocâ achar que pelo fato de estar fazendo doutorado e entender um pouquinho de teoria, que você terá voz de argumentação. Infelizmente, há muitos professores "old school" que não atribuem boas notas aos alunos porque "só Deus merece um 10". Não dá para discutir com esse tipo de professor porque ele não gosta de reconhecer que talvez tenha estacionado na carreira e talvez seus alunos entendam o suficiente de teoria para debater de igual para igual. Tem professor que, mesmo estando errado, gosta de discordar de aluno para sempre "estar certo". É justo? Não. Vale a pena comprar briga? Depende. Você vai querer se indispor com esse professor e com os colegas dele? Como você vai querer ficar conhecido na instituição? Há várias situações para se pesar e acho triste fazer um trabalho "somente para passar". Mas se o professor é um desses, deixa pra lá. Não perca tempo da sua pesquisa se indispondo. Afinal, o tempo vai mostrar o valor de cada um. E as oportunidades de emprego também.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Projetos Paralelos

Sou uma aluna Full-time no programa de doutorado. No entanto, oficialmente no meu visto eu posso trabalhar 20 horas semanais com outras coisas, com exceção do período de férias que poderia trabalhar um pouco mais. A universidade estimula os alunos a trabalharem e oferece várias oportunidades de empregos temporários dentro dela. Nessas vagas é possível trabalhar nos cafés, como também ajudar em pesquisas acadêmicas. Às vezes essas vagas aparecem com os nossos próprios orientadores, que por confiarem no nosso trabalho nos propõem esse tipo de tarefa. O que nós precisamos ter claro é o quanto isso vai afetar o rendimento do nosso trabalho. Nós temos boa vontade e capacidade de fazer, mas se você achar que primeiro - não vai contribuir com o seu conhecimento/currículo; e, segundo - ainda vai atrasar a sua vida, deixa pra lá. Não vale a pena parar a sua pesquisa para fazer algo que seu orientador precisa que alguém faça. Tudo bem que às vezes o dinheiro (porque chega dessa história de fazer as coisas de graça) é muito bem vindo, e ainda por cima a gente ganha uns pontos com o orientador. Mas de verdade mesmo, avalie o tempo que a tarefa vai demandar e o quanto você vai receber, porque muitas vezes o custo/malefício (só vai azarar sua pesquisa) não vale a pena.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Endnote

No último post eu falei sobre a organização e a produção das referências. O Endnote é um programa que auxilia e muito nessa tarefa. A primeira coisa que você precisa saber é para quê e como ele funciona. Primeiro ele organiza as suas bibliotecas de pesquisa. A produção de artigos científicos em humanas é menor em relação à exatas. Isso é fato. Então a quantidade de dados que você vai ter que lidar é, de uma certa forma, menor do que esse pessoal que está muito mais acostumado a lidar com grande quantidade de dados. O Endnote organisa a pesquisa bibliográfica que você faz em base de dados como o Scielo ou o Web of Science. Se você efetua uma pesquisa e o resultado dá 1000 artigos, você consegue organisar, inserir informação, localizar e baixar os artigos que estão disponíveis na web pelo Endnote. Nessa lista de 1000 artigos você consegue o acesso aos abstracts, que você pode ler e vir 'limpando' aqueles que não te interessa. Ele também identifica os artigos duplicados e os exclui para diminuir a lista. Se você está filiado a uma biblioteca de alguma universidade, provavelmente você tem acesso às publicações que a sua uni assina. Isso te dá acesso a alguns artigos pagos, que normalmente 'pessoas comuns' não têm. O Endnote reconhece essa assinatura e localiza os artigos pagos e os baixa por conta da sua conexão. É muito legal e prático e ajuda a manter o pesquisador atualizado sobre o que está sendo pesquisado/publicado pelo mundo. Há outros programas que fazem isso. Mendeley e Zotero são algumas opções que me indicaram, mas eu nunca usei e não sei como funcionam. E continuando o papo das referências, você consegue com apenas 'um click' criar a lista de referências que precisa. Ele já tem formatação Harvard e ABNT prontas, é só indicar. Ele trabalha integrado com o Word, então você consegue criar, aliás ele cria sozinho, a sua lista de referências no final do texto enquanto você vai escrevendo. Existem tutorias na internet que te mostram como usar. Não é difícil, mas demanda um tempinho e prática. O que vale é tentar e brincar um pouco. Depois que você se acostuma, vira prática e ferramenta indispensável.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Referências

Esse é um assunto complicado que ainda não sei como as pessoas se enroscam nisso. Uma das primeiras coisas que ouvi quando entrei na pós foi 'Construa a sua lista de referências enquanto estiver escrevendo' e também 'Nunca deixe para o final'. Então, eu achava que ficar repetindo isso era a maior besteira do mundo e que era ÓBVIO que ninguém mais deixava para o final. Pois é, ledo engano. Aqui em Birmingham tem muito brasileiro que não faz/atualiza as referências quando está escrevendo e deixa para o final. A lista de referências é algo que toma tempo e precisa de checagem minuciosa, porque os detalhes que ela possui demanda um olhar bem cuidadoso e depois de duas horas fazendo isso, voce não enxerga mais nada. Resumindo: FAÇA A LISTA DE REFERÊNCIAS ENQUANTO ESTIVER ESCREVENDO! Não tem segredo. Abra o arquivo e no momento em que você for fazendo as citações e for lembrando os temas que esta abordando, você já vai acrescentando os nomes. Eu sempre fiz resumos dos livros que eu lia e sempre fiz lista de artigos que achava interessante, então sempre tinha um arquivo base em que eu ja tinha pronta essas referências. Era só copiar e colar. Se fosse necessário ajustar alguma coisa por conta de padrão de revista científica, era só um ajuste pequeno. Não precisava escrever tudo de novo. E além de tudo, fazer isso de uma vez é muito chato. Fazer aos poucos você não vê o negocio andar e quando terminar de escrever você também terá suas referências prontas. Mas para quem quer 'profissionalizar' as referências nós temos softwares como o Endnote...

terça-feira, 5 de maio de 2015

Orientadores

Tenho percebido que esse é um assunto delicado.
O número de alunos que reclamam de seus orientadores não é pequeno. Isso que faz pensar porquê.
Nunca tive problema com as minhas. Sorte? Maybe. Mas tentei olhar o meu caso e o caso das pessoas que têm reclamado.

Olhando o mestrado...
Construi uma relação com a minha orientadora por anos. Passei dois anos assistindo aulas dela na pós como 'ouvinte' e como aluna 'especial'. Usei esse tempo para conhecer a forma como ela trabalha, o foco de pesquisa e o perfil dos alunos que eram os orientandos dela. Foram mais quatro anos para elaborar o meu projeto de pesquisa e se aplicar no processo de seleção que, by the way, não era nada fácil para uma pessoa que se formou em outra universidade. Minha orientação foi muito tranquila e eu nunca tive melindre nos momentos em que ela me disse que eu precisava 'cortar' ou 'rescrever' alguma coisa. Nosso relacionamento pessoal é ótimo. Fizemos reuniões na casa dela quando as greves aconteciam ou quando a urgência das correções era grande. Ela me apoiou e me ouviu nos meus momentos pessoais delicados e escreveu a minha carta de recomendação para Birmingham.

Olhando o doutorado...
O processo do doutorado foi muito rápido, então não tive tempo de pensar muito e nem de construir uma relação, uma vez que eu tinha uma semana para achar uma pessoa. Por conta do tema da minha pesquisa eu tinha quatro áreas em que eu poderia me aplicar: Línguas, Educação, Mídias Digitais ou Filosofia. O International Office da Universidade de indicou uma pessoa em Línguas que lidava com Tecnologia. Conversei com ela após ela ler o meu projeto. Ela me disse que não tinha a menor ideia de quem era o Foucault. Isso me preocupou e me fez pesar se era mais importante eu ter alguém com experiência em línguas e tecnologia ou em filosofia. Troquei o meu approach. Vi que a minha maior dificuldade era o Foucault e que precisava de alguém para que ajudar nisso. O pessoal da linguística não está muito acostumado a lidar com o Foucault, então fui para a Educação e achei a minha 'lovely' supervisor. Ela é expert nele e nos estudos relacionados à area que eu precisava avançar. Conversamos uma vez por skype, mas ao encontrar com ela em pessoa a 'química rolou'.

Em ambos os casos eu não podia estar melhor amparada.
Ouvi de pessoas que vieram para cá que a universidade 'escolheu' o orientador. Mas como o pessoal da administração vai saber quem é a melhor pessoa para a sua pesquisa?
Acho que você precisa saber quem a pessoa é, os pontos fortes e deficitários da pesquisa dela, como ela poderá contribuir para o seu estudo. Serão no mínimo três e não tem nada pior do que um namoro 'crap' que você não consegue sair. Dar uma olhada nas publicações e periodicidade para ver o quanto a pessoa está envolvida com pesquisa. Ver qual é a atuação dela na universidade e principalmente se ela não vai se aposentar!!! Vários alunos foram largados, porque o professor ou mudou de universidade por conta de uma proposta melhor ou porque foi curtir a vida. Conversar com ex-orientandos? Talvez.

Mas uma coisa eu tenho certeza, esse negócio de começar uma relação 'no escuro' é muito arriscada!

terça-feira, 21 de abril de 2015

Cronograma de Trabalho

A única que coisa que a gente tem certeza em uma pesquisa é que o relógio não para. Não importa a sua justificativa, você vai ter que prestar contas se as coisas não saíram como o planejado.
Planejar não é garantia que você executará as tarefas da forma como está falando e, principalmente, que você obterá os resultados esperados da forma como indicou no cronograma.
Mas o cronograma é importante.

O doutorado aqui no UK tem duração entre três e quatro anos, dependendo do programa. Em Humanas são três e em Exatas/Biológicas são quatro, porque eles partem do princípio que você fique três anos no laboratório e o quarto você se afasta e só escreve.
O meu programa são três anos, então me programei para isso: ano 1 - revisão de literatura; ano 2 - pesquisa de campo e talvez início das análises; ano 3 - análise e escrita.
Essa divisão é bem básica e ajuda muito.
Estou no meu segundo ano e montei um calendário anual, com um foco diferenciado para cada mês. Durante o segundo ano estou prevendo duas férias de quinze dias, uma no meio do ano e outra no final para poder me afastar  dos dados. Além disso há um mês de folga durante o ano para acertar possíveis atrasos.
Além disso, estou dois meses adiantada com a pesquisa, então se seguir o calendário, terminarei com três meses de antecedência.
Acho difícil isso acontecer, pois SEMPRE há imprevistos. Não dá para ignorar.
Há também as férias. Elas são importantes primeiro porque todo mundo fica cansado e não é porque você está 'só estudando' que não mereça férias. Elas precisam acontecer, mesmo para que você descanse a sua cabeça.
Pretendo começar a análise depois do meu segundo período de férias, para poder me afastar e talvez observar algum coisa que não estava identificando antes, quando estava acostumada com meus dados.

Estou no segundo trimestre da minha coleta e já troquei o foco de alguns meses, adiantando uns e adiando outros. Estou fazendo duas coisas ao mesmo tempo. Tudo um pouco diferente do que tinha planejado. Mas o cronograma está no meu mural e na medida em que vou completando as tarefas, vou ticando a lista. Não importa a ordem. Isso alivia.
O importante é sempre ter um plano, porque se ele não der certo, você pode ter um ponto de partida para pensar em uma alternativa.

Atualização

Acho que estou um pouco em dívida com as minhas atualizações.
Comecei o trabalho de campo e estou coletando dados.
É claro que montei um cronograma básico do que quero enfocar, para ter uma ideia de quanto tempo lidar um com tópico e depois mudar e também para não ficar muito tempo com uma coisa só.
Falo isso por conta do tipo de coleta de dados que vou fazer, em função dos tipos de dados que irei analisar.
Junto com esses dados, congressos, simpósios, disciplinas, módulos avulsos, reuniões, projetos paralelos e outras coisas aparecem no meio do caminho, por isso que é  interessante ter pelo menos um cronograma básico do que enfocar.
Então vamos lá.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Epistemologia e Ontologia 2

Escrevi o post anterior antes de refletir sobre a implicação desses conceitos na minha própria pesquisa.
Antes de mais nada, esses conceitos estão baseados na filosofia ocidental, moderna. As próprias bases do pósmodernismo questiona um pouco essas ideias por conta da deconstrução de Derrida. No entanto, me parece que os estudiosos que lidam com pesquisa em Ciências Sociais querem "encaixar" e rotular o que é desenvolvido como pesquisa em classificações pré-estabelecidas.
Se uma pesquisa é desenvolvida, ela "deve" ser identificada com o paradigma quantitativo ou qualitativo. Os métodos devem estar de acordo com esses paradigmas, ou seja, se eu quiser "medir" algo, preciso usar estatística e logo sou adepta do positivismo.
Isso soa mais como uma briga entre duas religiões rivais, cujo caminho levará a uma "verdade" absoluta, que no fim dá no mesmo caminho.
Pensando na minha pesquisa, cuja base teórica está no trabalho filosófico de Gilles Deleuze e Félix Guattari, nenhum desses conceitos se aplica.
D & G argumentam contra entres constructos da modernidade e que o pósmodernismo tenta ir contra, apenas reforçando-os.
Eles acreditam em uma perspectiva esquizofrênica que saia dos parâmetros construídos a fim de entender e encaixar/classificar os padrões sociais humanos da sociedade ocidental.
Esses padrões são tranquilizantes porque são parâmetros para se trabalhar, dando um direcionamento que o ser humano gosta e "teoricamente" precisa.
Na verdade, é como se as Ciências Sociais estivessem sendo chamadas para se reconstruir em cima de uma nova perspectiva que ninguém sabe ao certo o que fazer, mas que a "velha guarda" está tentando enquadrar naquilo que eles sabem fazer.