domingo, 26 de novembro de 2017

Publicações

Uma das coisas mais importantes na academia que o pesquisador precisa se preocupar é com a construção de sua identidade pela coesão de seu trabalho.
Indiscutivelmente o que diz quem você é são suas publicações. E publicações no plural.
No meio acadêmico no exterior, você é um bom pesquisador se você desenvolve pesquisa continuamente e publica seus resultados em revistas com fator de impacto alto.
Nem preciso dizer que no exterior ninguém liga para as revistas brasileiras Qualis Capes A1. Quem se importa com publicações na Língua Portuguesa? Só a academia brasileira.
Nas áreas das Ciências Naturais e nas Engenharias ninguém se importa com as revistas brasileiras e publicar na Língua Inglesa é o mínimo que se faz. Você apresenta o que está fazendo para uma audiência mundial e consegue ampliar a visibilidade do seu trabalho. Estatisticamente falando, a possibilidade de alguém em outros países se interessarem pela sua pesquisa aumenta e também aumenta a probabilidade de ter seu estudo citado por outros pesquisadores.
Todas essas questões estatísticas contam pois elas são interpretadas como eficácia produtiva e relevância de estudo.
Quando as áreas de humanas ficam restritas a uma audiência na Língua Portuguesa, delimita a sua produção e não contribui para a discussão acadêmica em escala mundial.
Um bom pesquisador sabe qual é o estado da arte da sua área de pesquisa em nível mundial e nacional. De preferência ele conhece esses pesquisadores e se faz reconhecer por eles, porque eles se tornam seus pares. E quem sabe, isso não vira colaboração no futuro?
Meu próximo passo é desmembrar meu doutorado em pequenos estudos e publicá-los em revistas internacionais com alto fator de impacto. Mas como escolher essas revistas? Isso fica para o próximo post. 

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

E depois?

O que fazer quando tudo acabou?
A alegria de ter concluído às vezes não vem. Ela dá lugar a um torpor, uma sensação de vazio como se tudo que você trabalhou tivesse acabado.E acabou.
E agora?, você se pergunta.
A primeira sensação que eu tive foi de leveza. De que eu podia fazer qualquer coisa. ESTAVA LIVRE!
Ao mesmo tempo que você está livre, você não tem nada para fazer.
Eu passei por um período conturbado após o viva, pois eu tinha uma semana para fazer minha mudança de volta para o Brasil. Isso não foi uma escolha minha, porque meu visto acabava naquela época.
Foi tão corrido e overwhelming que eu só consegui escrever aqui no blog muito tempo depois.
A volta foi realmente estafante e eu precise dar conta de:

  • arrumar meu apartamento (sim, eu tinha casa para voltar)
  • fazer uma lista de eletrodomésticos para comprar
  • ver como ficaria a questão do reconhecimento do diploma
  • ver os prazos para a formatura
  • checar a correção da tese e as datas de depósito
  • plano de saúde...
  • e emprego, é claro o mais aterrorizante de todos.

Hoje já se passaram cinco meses que eu estou no Brasil e a vida se encaixou. As coisas estão caminhando e em menos de um mês eu já tinha duas propostas de emprego com a terceira por vir.
Ainda não consegui acertar tudo que queria mas o período pós viva eu vou curtir nas férias de dezembro.
O que realmente vale a pena fazer é não deixar para última hora para arrumar as coisas. Ficar um mês depois que as coisas terminam para tirar umas férias e organizar a vida teria sido o ideal, mas não foi possível.
No fim das contas a vida se organniza sozinha, afinal a gente é brasileiro e se vira.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

A Maratona e a linha de chegada - Quem é o Iron Man?

A maratona é a prova que mais exige do participante. É nela que a perseverança e a determinação fazem a pessoa ser uma vencedora ou não. Entrei na sala da defesa como se estivesse percorrendo um caminho longo e, mesmo sentada, sabia que o percurso seria tortuoso.
Acho que o 'viva' ou defesa da tese nunca é como o esperado. Eu até que estava tranquila, considerando o altíssimo grau de ansiedade que eu me encontrava naqueles últimos meses.
Eu sabia o que tinha escrito, como e por quê. Sabia o que eles poderiam me perguntar e sabia de algumas falhas da minha tese. Porém, eu acho que pegaram tão leve no meu mestrado que eu estava esperando uma conversa de cavalheiros, mesmo porque a maioria das defesas dos meus colegas daqui tinha sido no mesmo tom. Bobinha, eu...
Na defesa estavam presentes o examinador interno, o externo e um chair que administra o evento e articula a discussão. Pelo que entendi ele deveria ser responsável, junto com o interno em lidar com o externo e manter a situação justa. Não achei que foi isso que aconteceu.
Eu me senti metralhada na defesa. O examinador externo fez muitas críticas com relação à detalhes estruturais da tese e que alguns trabalhados importantes estavam faltando. Não foi uma conversa e eu tive que me justificar por muito tempo. Ele foi de página em página, de capítulo em capítulo, coisa que não deveria acontecer aqui pelo que me falaram.
Segundo minha orientadora é educado e de bom tom citar e usar o trabalho dos examinadores. Usei de ambos, mas a minha externa não gostou da escolha e alegou estar desapontada. Não posso afirmar se ela pegou no meu pé por conta disso. Reconheço o que ela apontou como falha estrutural, segundo uma concepção tradicional de gênero escrito de tese, mas as falhas de conteúdo que ela pontuou são questionáveis, uma vez que ninguém pode citar todos os trabalhos do mundo.
Não achei que a administração foi muito justa, porque ninguém interrompeu o que o externo estava falando. O interno pegou muito mais leve e com ele eu consegui ter uma conversa. O primeiro estava focado em apontar as falhas e o segundo em discutir e entender como desenvolvi a pesquisa. Eu senti que houve uma legítima discussão que contribuiu para o meu desenvolvimento com o segundo, mas com o externo foi basicamente a elaboração de um check-list para incluir na tese.
E assim foram 2 horas e meia, quase três. Passei com major, uma vez que tinha muita coisa para corrigir. Demorei duas semanas para corrigir tudo e segui à risca o que eles recomendaram.
Mas isso pouco importou porque terminei a prova. Posso não ter terminado em primeiro, mas finalizei a prova.



sexta-feira, 14 de julho de 2017

Antes da Etapa 3 do Iron Man - a maratona

Durante o Iron Man, não dá para dar aquela paradinha e respirar entre uma prova e outra. Sabe aquele momento que você apoia as mãos no joelho, olha para baixo e respira? Então, entre a submissão e a defesa há um espaço de tempo em que esse descanso pode acontecer. Você pode focar em outras coisas, fazer o que não teve tempo, mas o mais importante é não pegar na tese. No meu caso, tive dois meses entre submissão e defesa. Fiquei um mês e meio sem pegar na tese. Fiz outras coisas, assisti filmes, organizei meus livros, músicas, saí. Se pudesse teria ido viajar, mas não deu. O melhor a fazer é se distanciar da tese para poder se preparar adequadamente para a defesa. Com esse afastamento, você meio que esquece o que escreveu e consegue ter um olhar crítico sobre o texto. Como um dos objetivos da preparação é tentar prever quais serão as perguntas que te farão e as falhas do seu trabalho, esse afastamento funciona bem. Eu precisei de duas semanas de preparação. Tem gente que precisa de mais. Li cada capítulo, marquei com post-its coloridos cada seção e elemento que queria ressaltar: quebra de estrutura, elementos básicos (objetivo, perguntas de pesquisa...), claims e outras coisas que achei importante saber prontamente a localização deles. Enquanto ia lendo, ia anotando o que achava que ficou faltando, perguntas que poderiam me fazer e tudo mais. Essa preparação foi minha. Meus orientadores fizeram uma reunião comigo e me explicaram como seria a defesa, ou 'viva' como é chamado aqui no UK. Eles me falaram preguntas gerais que poderiam me fazer e que coisas específicas dependiam de cada examinador. Eles até arriscaram algumas questões teóricas que talvez eu devesse estar preparada. Saí dessa reunião e estudei mais um pouco e esperei. A Universidade de Birmingham tem um curso preparatório sobre como se preparar para o viva e faz simulados. Verifique com a sua universidade se ela oferece esse tipo de curso. Outra coisa que você pode fazer é se juntar com os colegas de departamento ou com amigos e conversar sobre a tese. No meu caso, fiz o segundo. Como meus amigos eram de outras áreas, foi bem interessante porque eles me fizeram perguntas que eu não estava esperando e que me fizeram repensar alguns detalhes. Ir para conferências apresentar a pesquisa também funciona, pois nesse momento você tem pessoas diferentes da mesma área, mas que necessariamente não estão fazendo uma pesquisa semelhante. Depois de ficar com a cabeça baixa de olhos fechados, respirei fundo, abri os olhos e comecei a correr, sem olhar pra traz.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Etapa 2 do Iron Man done! parte B

Assim que minha orientadora deu  feedback sobre a minha última análise ela me pediu a conclusão.
Sabe aquele moment da prova de ciclismo que você se depara com o morro mais alto da serra? Você olha para cima, respira fundo, pensa no esforço que vai ter que fazer, checa se está com tudo preparado, olha para o pico do morro e diz pra si mesma que já está quase lá... e vai.
É claro que isso acontece em segundos e você só sente a velocidade decrescendo por conta da inclinação do solo.
Você sabe que tem que ter paciência, coragem e fé porque aos poucos você está quase lá. Você relembra  porque está alí e reafirma seus objetivos. Você relembra os caminhos por onde passou. Você relembra os momentos difíceis e diz a si mesma que conseguiu, e por isso deve continuar indo. Esse ainda não será o momento mais difícil, mas você tem que resistir.
Você olha para a paisagem do lado e identifica novos horizontes que você quer compartilhar com as pessoas e naquele momento sozinha você contempla aquela beleza.
De repente você percebe que está quase lá. Respira fundo, joga sua força nas coxas e vai.
Foi mais ou menos assim que me senti escrevendo a conclusão.
Você fica se perguntando sempre o porquê está fazendo aquilo. A pergunta 'e daí?' sempre aparece para te assustar e você precisa contnuar indo porque o maior desafio não é o morro, mas o que vem depois dele...
Resumir uma jornada de 68.000 palavras em 5.000 foi bem difícil porque você sempre duvida da relevância do que está fazendo. Tenha fé, porque esse não será o maior desafio.

...

Depois que cheguei no pico do morro, entreguei a conclusão e parei pra contemplar mais uma vez a vista, porque sabia que quando parasse de novo, seria na linha de chegada.

Etapa 2 do Iron Man done! parte A.

Será que a prova de bicicleta é a mais fácil do Iron Man? Fiquei pensando sobre isso quando parei para rever a análise extra que coloquei na tese. Eu estava cansada, mas como estava no ritmo, escrevi meio que automaticamente o que precisava. Já tinha um modelo, então foi meio que dar uns ticks em algumas caixas. Enviei a análise extra para a minha orientadora e dois dias depois ela me respondeu com tudo corrigido e o que precisava ser feito. Eram mais questões de argumentação, elementos repetitivos do que problemas com a teoria. Mais uma vez fiquei feliz com o meu achievement. É engraçado como a escrita flui depois que você estabelece um modelo e um framework de análise. Você sabe o que está fazendo e porquê. Daí você sabe o que procurar, o que confrontar e o que questionar.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Etapa 1 do Iron Man done!

Acho que chamar o doutorado de Iron Man acadêmico foi uma boa escolha. Digamos que eu acabei de completar a prova de natação. Nessa prova foram percorridas 62 páginas de introdução, revisão de políticas públicas, teoria, metodologia e quatro análises. Foram 59.364 palavras que mostram o que eu andei observando sobre o uso das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação em Escolas de Educação Infantil, Fundamental I, II e Ensino Médio no Reino Unido. Ter pouca coisa para corrigir me deixa feliz e satisfeita. Feliz porque não ser muito trabalho e satisfeita porque o que eu fiz, de primeira ficou bom. Eu definitivamente achei que não ia conseguir escrever tão bem em tão pouco tempo. Achei que quatro meses não seriam o suficiente para organisar aquela quantidade enorme de dados e dar o tratamento necessário. Achei que a língua teria que ser corrigida. No fim, meu texto está claro, meu ponto está evidente e não preciso fazer muito. Mas foco, porque ainda falta a prova de bicicleta e a maratona. Para a prova de bicicleta preciso escrever mais uma análise porque tenho espaço para isso. Preciso completar algumas coisas da teoria e rescrever um trecho da análise em que um ponto teórico não está evidente. E como diriam os atletas, vamo que vamos.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Reta final

Nem acredito que comecei esse blog quando estava no comecinho do doutorado. Todo início de processo parece igual: a gente sempre pensa que tem tempo, que vai dar tudo certo e se ilude com as possibilidades. Em uma semana entrego meu primeiro rascunho da tese. Ele terá em média 60.000 palavras das quais foram organizadas em 4 meses. Não foram quatro meses de escrita. Foram três anos de leitura, escrita, re-escrita, reflexão e muito mais. Vários rascunhos foram feitos, vários experimentos com o texto foram discutidos para se chegar ao rascunho final. Muita coisa vai ser deixada de fora porque o espaço não permite. Muita coisa que era importante antes, perdeu o apelo ao longo do tempo. Outras coisas que pareciam insignificantes tornaram-se primordiais para justificar o argumento principal. Agora é aquele momento que todo corredor de maratona enfrenta: respirar fundo nos últimos cinco kilômetros finais e dar o sprint para cruzar a linha de chegada. O que mais eu quero agora é me sentir finalizando o Iron Man acadêmico. Vamos ver.